terça-feira, 5 de setembro de 2023

Histórico


Em 4 de setembro de 2023, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, afirmou pela primeira vez que o governo do estado iria assumir a gestão do Metrô do Recife. Mas impôs duas condições, a primeira seria a garantia da realocação do pessoal do metrô e o aporte de 2 bilhões de reais para recuperar o sistema e devolver o padrão mínimo de operação. O metrô transportava menos da metade dos passageiros que já transportou, amargando um déficit anual só de custeio de R$ 300 milhões, estando sucateado a olhos vistos.

Em primeiro de agosto de 2024, o Metrô do Recife deixou de funcionar aos domingos por tempo indeterminado em função do início das obras de manutenção corretiva nos trilhos das linhas Centro e Sul. Em média, o Metrô do Recife transportava 48 mil passageiros aos domingos.

Passageiros/dia dos trens de subúrbio

1978        16.800
1979        20.900
1980        33.500
1981        39.200


REFERÊNCIAS:

Informe Especial. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro. 18 setembro 1982. p.13.

Sem Metrô do Recife aos domingos, frota de ônibus é reforçada e linhas especiais são criadas; confira lista. G1 PE. 31 agosto 2024.

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Pernambuco

VLT está sem funcionar no Grande Recife por falta de manutenção

18/04/2023 - JC Ne

Por Roberta Soares


Pela primeira vez nos últimos cinco anos, a CBTU Recife reconheceu o sucateamento do sistema oficialmente
Foto Guga Matos/JC Imagem


Ramais de VLT, da Linha a Diesel do Metrô do Recife, quebraram por falta de manutenção - FOTO: Foto: Guga Matos/JC Imagem

Os dois ramais a diesel operados pelos Veículos Leves sobre Trilhos (VLT) na Região Metropolitana do Recife deixaram de funcionar nesta terça-feira (18/4). A informação é da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), que opera os ramais a diesel e a rede elétrica do Metrô do Recife.

Os ramais paralisados são Curado-Cajueiro Seco (que liga a Zona Oeste à Zona Sul do Grande Recife) e Cajueiro Seco/Cabo de Santo Agostinho (conexão da área Sul do Grande Recife).

O Ramal Cajueiro Seco-Cabo de Santo Agostinho é o de maior movimento, apesar dos intervalos muito superiores à 1h. A CBTU Recife disse apenas que houve uma quebra nos ramais a diesel. E que, por enquanto, não há previsão de retorno.


Por nota, a CBTU Recife - numa clara mudança de política de comunicação, vale ressaltar - reconheceu que os problemas são provocados pela falta de manutenção do sistema, especialmente dos ramais a diesel.

QUEBRA PROVOCADA POR FALTA DE INVESTIMENTOS

Disse, ainda, que já fez contratações na ordem de R$ 12 milhões e que os ramais de VLT também receberão investimentos na ordem de R$ 130 milhões.


VLT pegou fogo na altura do bairro de Ponte dos Carvalhos, no Cabo de Santo Agostinho, em abril de 2022


“A CBTU Recife reconhece os problemas recorrentes que os dois Ramais do VLT apresentam, tanto o Ramal Cabo/Cajueiro Seco, principalmente o Ramal Curado/Cajueiro Seco. Os problemas são gerados pela falta de verbas para manutenção do sistema nos últimos anos.

Confira a série de reportagens Metrôs - Uma conta que não fecha

PRIVATIZAÇÃO DO METRÔ DO RECIFE estaria mais próxima após LULA não retirar CBTU do programa de concessões públicas

Em contrapartida, esclarecemos que estamos em busca da melhoria do sistema Diesel em Recife, inclusive com licitações já realizadas e contratação, num montante de R$ 12 milhões.

Informamos que as melhorias na disponibilidade e confiabilidade dos trens resultantes dessas contratações serão percebidas gradativamente ao longo dos próximos 12 meses. Por se tratar de equipamentos/serviços específicos ligados ao ramo ferroviário.

Em paralelo a essa ação, existe um planejamento de médio e longo prazo para recuperação plena do sistema do VLT na ordem de 130 milhões, que deverá ocorrer dentro dos próximos 5 anos”.

SISTEMA JÁ TEVE 9 VLTS, MAS ATUALMENTE OPERA COM APENAS 3

Se o Metrô do Recife (rede elétrica) sofre com o sucateamento, a degradação dos VLTs é ainda maior. Há um ano, apenas três VLTs operam na linha diesel. Dois no Ramal Cajueiro Seco/Cabo e um no Ramal Curado/Cajueiro Seco. Devido à dificuldade, o intervalo entre os VLTs é enorme, chegando a duas horas de espera.

O sistema já contou com 9 VLTs, que foram sendo sucateados. Além disso, a linha diesel sofre com uma alta evasão de receita - a maioria dos passageiros não paga a tarifa ao longo das duas linhas.

São entre 450 e 600 passageiros diários exatamente porque a evasão é grande. Oficialmente, entretanto, a CBTU Recife informou que o Ramal Cajueiro Seco/Cabo transporta diariamente 1.450 passageiros, e o Ramal Curado/Cajueiro Seco transporta 790 pessoas/dia.


quinta-feira, 13 de julho de 2017

Integração muda sábado no terminal de Cavaleiro, em Jaboatão

13/07/17 - Folha PE

Só poderá realizar a transição sem pagar nova tarifa quem tiver o VEM Estudante, Trabalhador, Comum ou Livre Acesso

com informações de Luiz Filipe Freire

Integração muda sábado no terminal de Cavaleiro, em Jaboatão
Integração muda sábado no terminal de Cavaleiro, em Jaboatão
Foto: Felipe Ribeiro/ Arquivo Folha

A partir deste sábado (15), o Terminal Integrado (TI) de Cavaleiro, em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana, vai passar por uma mudança na operação que deve afetar, pelo menos, 4,5 mil pessoas por dia, segundo o Grande Recife Consórcio de Transporte. A alteração será sentida na hora em que os usuários forem fazer a integração do ônibus para o metrô ou vice-versa, pois só poderá realizar essa transição sem pagar uma nova tarifa quem tiver o VEM Comum, Estudante, Trabalhador ou Livre Acesso.

Quem usa dinheiro e não adquirir o cartão terá que pagar duas vezes (na primeira e na segunda conduções). Esse processo, conhecido como integração temporal, será testado e pode ser estendido a outros terminais, se der certo, de acordo com o consórcio.

O TI Cavaleiro conta com seis linhas de ônibus integradas a ele. Atualmente, uma pessoa que embarca na linha 245-Dois Carneiros/TI Cavaleiro, por exemplo, usa o VEM ao passar pela catraca do ônibus e integra na estação de metrô sem precisar de mais nada. A partir de sábado, porém, será necessário utilizar o VEM uma segunda vez, assim que o usuário descer do coletivo e passar pela catraca do metrô.

É bom ressaltar que não será debitada uma nova passagem. A medida deve, inclusive, combater a evasão de receita, já que é comum ver passageiros entrando de graça nos ônibus ou nos trens a partir do terminal devido a dificuldades na fiscalização. 

Na volta para casa é que os passageiros devem sentir mais mudanças. Quem embarcar pela bilheteria de qualquer estação do metrô usará o VEM pela primeira vez ao passar pela catraca, como já acontece hoje. Quando chegar ao TI Cavaleiro para fazer a integração, contudo, terá que embarcar nos ônibus pela porta dianteira, e não mais pela traseira ou pela central. Com isso, terá que usar o VEM pela segunda vez, agora dentro do coletivo. 

Outro cenário diz respeito a quem tem que usar três conduções, na ordem ônibus-metrô-ônibus. Para não ter uma nova tarifa descontada ao chegar a Cavaleiro, esse passageiro não pode ter iniciado a viagem em qualquer ônibus, mas somente em uma das 15 linhas que farão integração temporal com as linhas do TI Cavaleiro.

Exemplo: alguém que trabalha no Shopping RioMar, Zona Sul do Recife, e mora em Quitandinha, Jaboatão. Essa pessoa pode embarcar num coletivo da linha 021-TI Joana Bezerra/RioMar, onde utilizará o VEM pela primeira vez no validador. Em seguida, desembarcar no TI Joana Bezerra, integrar com o metrô na Estação Joana Bezerra até a Estação Cavaleiro e, então, usar o VEM pela segunda vez dentro do ônibus da linha 255-Quitandinha/TI Cavaleiro. 

Segundo o Grande Recife, a escolha das linhas envolvidas na nova operação foi feita com base em informações sobre os deslocamentos dos usuários do TI Cavaleiro. "É um terminal com demanda menor e que nos possibilita esse teste. Estamos avaliando as possibilidades que a tecnologia nos dá para ampliar a integração temporal, que já envolve 266 linhas do sistema", afirma o diretor de Planejamento do Grande Recife, Alfredo Bandeira.

O órgão está avisando os usuários sobre as mudanças em informativos afixados nos coletivos. Mil cartões VEM Comum serão distribuídos pelos cobradores das linhas afetadas. Além deles, 20 bilhetes eletrônicos serão repassados gratuitamente nas comunidades da região de Cavaleiro.



quarta-feira, 5 de julho de 2017

Metrô padece sem verba do VEM

05/07/17 -  Folha de Pernambuco

Recurso, que equivale a mais de 15% dos ganhos da CBTU, não tem sido repassado por empresas de ônibus e pelo Estado, que tem controle da bilhetagem

Por: Luiz Filipe Freire

Remando contra a crise, sistema vem adquirindo peças aos poucos para reequipar trens e reverter redução da frota

Remando contra a crise, sistema vem adquirindo peças aos poucos para reequipar trens e reverter redução da frota
Foto: Rafael Furtado

Com operação reduzida em 30% devido à necessidade de reposição de peças, como a Folha de Pernambuco mostrou há duas semanas, o metrô do Recife tem uma demanda a mais para contornar: os atrasos nos repasses da verba da bilhetagem eletrônica. Trata-se de um recurso a que a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) tem direito pelos usuários do Vale Eletrônico Metropolitano (VEM) que chegam às plataformas pelas integrações com ônibus. A transferência, intermediada pelo Grande Recife Consórcio de Transporte (GRCT), está atrasada.

O acumulado já ultrapassa R$ 9 milhões. Pode parecer pouco, mas é um dinheiro que representa mais de 15% da receita do metrô e que faz falta num sistema que tem a tarifa congelada em R$ 1,60 há cinco anos e que é bancado quase que por completo por subsídios do Governo Federal.

A situação foi exposta num ofício que chegou ao conhecimento do Blog da Folha. No documento, a Coordenadoria Operacional de Arrecadação da CBTU diz que os valores deixaram de ser repassados à empresa a partir da segunda quinzena de fevereiro. 

Também estão em aberto as parcelas de março, abril, maio e junho, uma média de R$ 2,3 milhões por mês. Além desse montante, outros R$ 52 milhões ainda não foram quitados. São referentes aos repasses do VEM dos anos de 2013, 2014 e 2015. Só os pagamentos de 2016 foram feitos de forma regular.

“Em maio do ano passado, quando assumimos, encontramos o metrô numa degradação muito grande. Temos feito uma recuperação e qualquer recurso que deixa de entrar gera um impacto negativo”, diz o superintendente regional da CBTU, Leonardo Villar Beltrão. 

Ele explica que se o usuário entrar pela bilheteria do metrô, a CBTU fica com 100% da tarifa, mas se forem utilizados os validadores do VEM para fazer as integrações, a parte da verba que fica com o metrô depende do anel tarifário do ônibus.

No fim de 2015, a própria direção nacional da CBTU expôs a dívida do Estado com o sistema. Na época, disse que os atrasos, somados aos problemas financeiros da companhia, contribuíam para um cenário em que, num futuro próximo dali, não se poderia garantir o funcionamento dos trens em todos os dias da semana.

Em junho de 2016, o Ministério das Cidades anunciou um reforço de R$ 33 milhões no orçamento e deu novo fôlego ao modal. Desde lá, o desafio tem sido o setor de manutenção. Dezenas de trens não têm mais condições de operar, o que levou à redução da frota e ao aumento dos intervalos entre as viagens. “Fizemos licitações e as peças estão chegando. Já recebemos 20 motores, rodas para trens, dormentes. Estamos fazendo nossa parte”, afirma Villar.

Em nota, o GRCT informou que o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Urbana-PE) é o responsável pelo repasse tarifário dos valores do VEM para a CBTU e que a entidade se comprometeu a apresentar um cronograma de pagamento ainda nesta semana.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Na crise, metrô do Recife reduz operação

21/06/2017 - Folha  de Pernambuco  

Número de trens e viagens caiu 30%, diz sindicato. Segundo a CBTU, problema é por falta de peças, que serão repostas

Por: Luiz Filipe Freire

Frota, que já teve 24 trens funcionando, agora tem menos de 15. Maior parte está nas garagens. Usuários reclamam de superlotação
Frota, que já teve 24 trens funcionando, agora tem menos de 15. Maior parte está nas garagens. Usuários reclamam de superlotação
Foto: Anderson Stevens

O metrô do Recife está demoran­­do mais e operando mais cheio. A afirmação é do Sindi­­­cato dos Metroviários (Sindmetro), que, nesta quarta-feira (21), às 18h, fará uma assembleia na Estação Central para dis­­cutir não só a campanha salarial da categoria e a possibilidade de greve, mas também a situação do sis­­tema, que transporta cerca de 350 mil passageiros por dia. 

Conforme a entidade, a redução no quantitati­­­vo de trens e viagens ultrapassa 30% em relação ao praticado até bem pouco tempo, nos primeiros me­­ses do ano. Com isso, só 35% da frota está atendendo aos usuários. A Companhia Brasileira de Trens Ur­­banos (CBTU) reconhece as mudanças e as atribui à falta de peças, que tem deixado várias composições sem funcionar.

A Linha Centro, com 19 estações e dois ramais - Jaboatão e Camaragi­­­be -, já contou com 15 trens e inter­­­valo de três mi­­nutos nos horários de pico. Mas, atualmente, segundo o Sindmetro, o quantitativo de trens caiu para até oito, e os intervalos subi­­­ram para dez minutos. Na Linha Sul (Ca­­jueiro Seco), com 12 estações, a situação é mais dramática: o total de trens caiu de oito para quatro, e a espera, que demorava até oito minutos, chega a 20.

Os passageiros confirmam as dificuldades. "Não tem mais hora pa­­­ra o trem vir cheio. Largo por volta das cinco, seis horas da tarde, e está superlotado. No sábado, largo pouco depois do meio-dia e também está", afirma o vendedor Guilherme Parízio. O motorista Jediael Figueira completa. "Na empresa em que trabalho, é comum o pessoal que usa metrô chegar atrasado. Os trens estão demorando mais", diz.

O metrô do Recife conta com um total de 40 trens, 25 deles da frota antiga, dos anos 80, e 15 com opera­­­ção iniciada em 2013. É normal que nem todos funcionem ao mesmo tempo por questões de escalas de trabalho dos maquinistas e necessidade de manutenção. O que cha­­ma atenção atualmente, contudo, é que há mais composições nas garagens do que operando. Só 14 das 40 estão atendendo aos passagei­­ros, número que, antes, era de 24 ou mais. "A operação foi reduzida nas últimas semanas, inclusive sem qualquer aviso aos usuários. É fru­­­to de um sucateamento que a CBTU vem passando", critica o presidente do Sindmetro-PE, Getúlio Basílio.

Em 2016, o sistema correu o risco de parar nos fins de semana por falta de recursos. A situação só foi amenizada em junho, quando o Ministério das Cidades anunciou um alívio de R$ 30 milhões para a CBTU Recife. Além disso, também houve a promessa de remanejar R$ 60 milhões em verbas do PAC pa­­ra ações emergenciais. 

Na época, a manutenção já era um problema. Sindicalistas denunciaram que peças de trens velhos eram usadas pa­­­ra manter os novos funcionando por­­­que não havia dinheiro para adquirir equipamentos de fábrica. 

Em nota, a CBTU informou que peças de reposição já foram contra­­­ta­­­das, estão em processo de fabrica­­­­­­ção e fornecimento e têm chegado de forma gradativa. A empresa ainda afirmou que alguns serviços “estão sendo executados, inclusive a retificação dos motores da frota antiga", e que essas providências "devem surtir efeito nos próximos meses", reduzindo o intervalo entre os trens. A CBTU disse que as ações integram um plano de recu­­­pe­­­­­­­ração do sistema, “que sofreu degradação por vários anos por fal­­­ta de recursos". Sobre os R$ 60 milhões, esclareceu que recursos do PAC são para investimentos e não po­­­­­­dem ser usados para custear o sistema.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Sem recursos, metrô do Recife pode parar em julho

01/06/2016 - Blog de Jamildo

Amanda Miranda

“Estou no metrô desde 1983. Eu nunca vi uma situação como essa.” É assim que o novo superintendente regional da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), o engenheiro mecânico Leonardo Villar, define o atual estado de degradação do modal no Recife. Com metade do orçamento previsto para 2016 – R$ 51,8 milhões – já utilizada e problemas como estoques insuficientes, são necessários R$ 100 milhões para manter o sistema em funcionamento até o fim do ano, sem contar com investimentos. É o dobro do que havia sido previsto para o ano inteiro e, sem esses recursos, o metrô já pode parar em julho.

Para defender o aumento da verba repassada pelo governo federal, o superintendente fez um paradoxo entre o alcance do metrô e o orçamento: enquanto em 2002, quando eram atendidos aproximadamente 200 mil passageiros, as verbas de custeio eram de R$ 72 milhões, hoje, com o dobro do número de passageiros, é de R$ 51,8 milhões. Foi justamente o aumento do aporte financeiro o motivo da reunião entre Villar e o atual ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), em Brasília, nessa terça (31).

Villar frisou ainda que a Linha Sul, ao contrário de 14 anos atrás, está em pleno funcionamento, além da linha de Veículos Leves sobre Trilhos (VLT) do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana. O número de trens quase dobrou nesse período, passando de 25 para 40. Tudo isso exige mais recursos para a manutenção. “A situação é muito difícil. A gente chegou no abismo”, lamenta.

PASTILHAS DE FREIO POR DOIS MESES

Das 40 composições atuais, 15 são novas e foram comprados para a Copa do Mundo de 2014. Mas seis já estão parados por falta de peças. Segundo o superintendente, só há pastilhas de freio, por exemplo, para mais dois meses. A solução provisória, então, é adotar estratégias para manter o funcionamento do sistema, como, por exemplo, remanejar equipamentos de um trem para outro.

Entre as questões já conhecidas pelos usuários, estão insegurança, lixo e ausência de equipamentos como elevadores e escadas rolantes nas estações. As linhas estão cheias de mato e entulhos e, na parte técnica, há ainda a degradação das subestações.

Para o superintendente, há ainda o problema da desmotivação dos funcionários diante da situação do metrô. “Chamaria de estágio de depressão mesmo. São funcionários que construíram o metrô, o têm como filho. O corpo técnico é muito preparado, muitos participaram da fundação”, explicou o engenheiro, que também é funcionário de carreira da CBTU.

» Movimentos sociais protestam contra Bruno Araújo no Recife

DÍVIDA DO GRANDE RECIFE

Villar ainda atribuiu parte da culpa ao Grande Recife Consórcio de Transporte, que não vinha repassando os recursos referentes às passagens dos terminais de integração, que são de aproximadamente R$ 2 milhões por mês. No ano passado, o presidente da CBTU, Marco Antônio Fireman, já havia denunciado uma dívida de R$ 48 milhões. “Isso recai no mesmo problema que o orçamento. Estão começando a repassar o atual, mas fazendo isso de forma parcial. Também estão em dificuldade financeira, mas isso penaliza a CBTU”, afirma Villar.

Nomeado na semana passada por Bruno Araújo, o superintendente Villar reconhece que há muitos obstáculos para o metrô, mas defende o modal. “Todas as grandes cidades no mundo têm metrô. É importante para a mobilidade de qualquer cidade. É um equipamento caro, que custou muito dinheiro nosso para ser implementado, e não podemos deixar acabar”, afirma. Se houver a paralisação do metrô, porém, a medida não deverá ser permanente.

Além de mais recursos, que o tucano vai pleitear com representantes do Ministério do Planejamento em reunião na próxima sexta-feira (3), o novo superintendente defende mudanças nas atividades no metrô. Está prevista uma reestruturação de processos internos de compras, operação e manutenção.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

“Manter operação é desafio", diz superintendente interino do metrô

25/05/2016 -  Folha de Pernambuco

Luiz Filipe Freire

Novo gestor enfrentará dificuldades orçamentárias para assegurar funcionamento de trens


Arthur de Souza/Folha de Pernambuco
Novo gestor prega enfrentamento da crise de forma realista

Servidor do metrô desde o período de sua implantação, na década de 80, o engenheiro mecânico Leonardo Villar Beltrão recebeu, na manhã desta quarta-feira (25), a missão de assumir interinamente a superintendência da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Recife.

Com a experiência de ter chefiado várias gerências da empresa, como a de Obras, até agosto de 2015, o novo gestor prega o enfrentamento da crise de forma realista. Destaca a necessidade de manter o básico - a operação dos trens -, mas, por conta do orçamento apertado, não firma prazos para outras demandas urgentes, como o reforço da segurança nas estações e nos trens. Beltrão, no entanto, enfatiza: a preocupação em passar o sistema a limpo nas próximas semanas indica que o Governo Federal vai passar a olhar o metrô de outra forma.

Como o senhor encara o desafio de assumir a direção do Metrô do Recife num momento em que o sistema enfrenta tantas dificuldades?

"Quando recebi a notícia do ministro [das Cidades, Bruno Araújo, PSDB], disse que era uma missão espinhosa, porque a situação do metrô é de muita degradação. É algo que já vem de anos. Mas me coloquei como funcionário público que sou, desde 1983 no sistema. Estou desde o início do projeto de implantação, na década de 80. Fui um dos primeiros de uma leva de engenheiros que começaram no metrô do Recife. Vi a implantação da Linha Sul, a compra dos novos trens [em 2013]. Passei por várias áreas da manutenção. Enfim, coloquei isso à disposição".

Como fica o sistema a partir de agora? Por onde começar?

"A mim foi pedido que fizesse um levantamento da empresa, um levantamento realista. Minha missão é fazer um planejamento até que se chegue à conclusão de qual vai ser o quadro definitivo da empresa. Não discutimos isso em detalhes ainda, mas vai se tratar de um planejamento de ações, do que pode ser feito, do que deve ser feito. Acho que continuar a operação do metrô é o grande desafio.

Já temos trens parados, inclusive, da frota nova, por falta de sobressalente [peças para reposição]. São peças difíceis, porque não são peças que se encontra na prateleira. Ou seja, são três trens novos que já estão parados e vários da frota antiga também, de uma frota de 40 trens. É algo que compromete muito a operação do sistema. Tem dia em que só conseguimos colocar 15 trens, 12 trens. É uma situação muito crítica. Como trabalhei muito tempo nessa área, vou atuar pessoalmente com o corpo técnico sobre essa situação".

Há algum prazo para a realização desse levantamento?

"Acredito que dentro de 15 dias ou, para um estudo mais detalhado, dentro de um mês".

Representantes do Sindicato dos Metroviários receberam bem sua indicação para ocupar o cargo de superintendente, mas se preocupam com o que vem depois, com a escolha do superintendente titular. Defendem um nome técnico, como ocorreu agora. Como o senhor enxerga isso? Há o risco de o que for desenvolvido agora, no seu período de interinidade, acabar não sendo levado adiante?

"Vejo a questão do seguinte modo: o novo governo está preocupado com o metrô do Recife. Acho que uma das primeiras estatais do Ministério [das Cidades] a ter mudanças nos quadros foi a CBTU, e na CBTU, a superintendência do Recife. As outras superintendências ainda não tiveram mudanças. Então, acho que isso aconteceu justamente por causa dessa questão grave que temos aqui, de degradação. Houve pressa nesse sentido. O ministro é pernambucano, sabe dos problemas do sistema daqui".

O senhor falou que o maior desafio é manter o básico: a operação do sistema. Isso significa rever a possibilidade de os trens deixarem de atender aos usuários nos fins de semana, como se cogitou?

"A questão de parar aos sábados e domingos é basicamente de orçamento. Se não vier orçamento, não temos dinheiro nem para pagar a energia. Mas é uma coisa mais fácil de ser resolvida à medida em que se tenha orçamento. É diferente da manutenção, que vai exigir um período de licitação. Pode acontecer até de a operação ocorrer com menos trens, mas é algo que se resolve com a questão dos recursos de que o sistema precisa".

Este ano, o orçamento da CBTU no Recife foi reduzido a R$ 51,9 milhões, metade do necessário. Como isso vai ser contornado?

"A gente ainda depende de uma sinalização do ministério de como isso vai ficar. Acho que essa aprovação do déficit de R$ 170 bilhões é algo que facilita muito a vida no quesito recursos".

Há previsão de aumentar a tarifa, hoje em R$ 1,60?

"Não, não há previsão. Isso pode até fazer parte do levantamento que vai ser preparado, só que mais no sentido de ver quanto o sistema custa, qual seria a tarifa ideal. Mas elevar é uma questão complicada, porque envolve uma decisão política. Tem a parte estadual, municipal, federal, mexe muito com a sociedade".

O metrô vive dias de violência. No último fim de semana, um suspeito de assalto foi morto dentro de um vagão. Nesse novo cenário, já se pode indicar alguma medida concreta para barrar a criminalidade no sistema?

"Há um plano de segurança, algumas estratégias, mas que dependem do orçamento. Há a questão do distrato com a empresa de segurança terceirizada..."

Por falta de pagamento?

"Por falta de pagamento. Ou seja, são aspectos dos quais ainda precisamos nos inteirar. Ainda não tem como dar uma ideia de prazo, de quantitativo, de algum reforço ou de qualquer ação nesse sentido".

Costuma-se dizer que o sistema ferroviário no País vem sofrendo descaso após descaso. Os 400 mil passageiros diários do metrô do Recife podem esperar um posicionamento diferente na atual gestão?

"Digo que se trata de um patrimônio, que não pode mais ser tratado como vem sendo tratado. Estimo que para ter um metrô do porte do nosso teria que se investir R$ 20 bilhões, R$ 30 bilhões. É um equipamento caro, de difícil implantação, e a gente já tem isso implantado aqui. Poucas capitais do País têm metrô. O nosso é o terceiro maior do Brasil. Dentro da CBTU, é o maior. Ou seja, é um patrimônio da sociedade e tem que ser cuidado. Para a mobilidade, é muito importante. Vejo nesse governo que está entrando essa percepção, essa preocupação. É um equipamento que vale qualquer esforço".