13/06/2010 - Diário de Pernambuco
Desativação da linha Cabo-Curado encerra uma história de 50 anos para abrir espaço à chegada dos Veículos Leves sobre Trilhos, em processo de implantação
Jailson da Paz - jailsonpaz.pe@dabr.com.br
Dos trens a diesel de Pernambuco, a linha do Cabo é a única a resistir. Até a década passada, as velhas locomotivas partiam com destino a São José, no Recife. O Curado é o destino atual. São 26 viagens diárias de segunda a sexta-feira, número que cai pela metade no sábado. E as viagens são um convite a paisagens pouco vistas por quem anda de automóvel ou ônibus.
Fotos: Alcione Ferreira DP/D.A Press
Meio preguiçoso, o sol dá sinal de vida logo nas primeiras viagens do velho trem a diesel. O ritmo é lento na Estação Cabo de Santo Agostinho. Cabisbaixo, um homem chega de sacola nas costas. Duas estudantes riem alto, mas a passos vagarosos. Quase não tiram os pés do chão.
É como a paisagem do terminal ferroviário: insiste em ser igual apesar dos bons ventos econômicos soprados do Complexo de Suape. A quebra vem com o badalar do sino. Há décadas, ele anuncia a partida dos vagões. Há quem diga que tenha um século e meio. Teria a mesma idade da linha, inaugurada, em 1855, quando o Brasil vivia sob o comando de dom Pedro II.
Por instantes, o sino quebra o silêncio e a vagarosidade. Passageiros atrasados se apressam para não perder o trem. "O próximo só daqui a uma hora", grita um retardatário. Nas três primeiras viagens, a distância entre uma e outra é de uma hora. O início, sempre às 5h30. Num pulo, o retardatário está dentro de um dos vagões. Fora, o maquinista dispara a buzina, o fumaceiro sobe. A inércia dá lugar a um saculejo que, de tão uniforme, faz operários, domésticas e estudantes adormecerem. Abrem os olhos aqui e acolá. Os corpos parecem ter decorado o lugar do desembarque. "Se alguém estiver dormindo no ponto de descida a gente acorda", diz o auxiliar de serviços gerais Tiago José da Silva, 45 anos. Há 23, ele recorre ao trem para trabalhar.
Tiago é falante. E bastante conhecido. Sempre que o trem para, algum passageiro o cumprimenta. Ele responde a todos. Dá uma pausa nas palavras apenas quando perguntado sobre o desaparecimento do trem a diesel. "Vou sentir falta, mas quero o melhor. A gente tem sempre que sonhar mais alto", responde. A desativação da linha Cabo-Curado alimenta conversas entre os cinco mil passageiros diários. No governo, idem. "É quase natural que o trem seja desativado", argumenta o coordenador do Centro de Controle Operacional da CBTU/Metrorec, José Augusto Lima de Souza. O desaparecimento do trem será consequência da entrada em funcionamento dos Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs), em processo de implantação
Da janela, o segurança Eliel Silva, 43, não faz conta do tempo. Espera pacientemente o velho trem vencer os 31,5 quilômetros entre o Cabo e o Curado. São 56 minutos. A paisagem quase não muda nas primeiras das oito estações. Vê-se apenas o canavial e alguns pontos azuis de rios e verdes escuros de Mata Atlântica. "É um trem pé duro com paisagem bonita", define. O verde ainda existe, mas quase todo o percurso foi tomada pelo casario. Casas e edifícios simples, cujos donos se contentam em pagar R$ 1,40 por viagem. "Acho que vou sentir saudade", admite a dona de casa Ednalva Santos, 45. Saudade de um "senhor" que trafega há meio século.
Só pra constar: não sei quem foi a besta que forneceu as informações ao repórter, mas informou errado. A Linha Diesel em si NÃO será extinta! O que haverá é apenas a substituição do "material rodante", ou, em outras palavras, só os velhos trens é que vão sair da Linha (sem trocadilhos) e, no lugar deles, entrarão os VLTs, mais modernos e rápidos.
ResponderExcluirA linha continuará onde sempre esteve, talvez até com a abertura de um ramal, a ser custeado pelas empresas que operam em Suape, para facilitar o transporte dos seus funcionários.
(E, só pra constar, as velhas locomotivas serão deslocadas prum futuro serviço de transporte entre o Recife e Ribeirão.)