quarta-feira, 1 de junho de 2016

Sem recursos, metrô do Recife pode parar em julho

01/06/2016 - Blog de Jamildo

Amanda Miranda

“Estou no metrô desde 1983. Eu nunca vi uma situação como essa.” É assim que o novo superintendente regional da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), o engenheiro mecânico Leonardo Villar, define o atual estado de degradação do modal no Recife. Com metade do orçamento previsto para 2016 – R$ 51,8 milhões – já utilizada e problemas como estoques insuficientes, são necessários R$ 100 milhões para manter o sistema em funcionamento até o fim do ano, sem contar com investimentos. É o dobro do que havia sido previsto para o ano inteiro e, sem esses recursos, o metrô já pode parar em julho.

Para defender o aumento da verba repassada pelo governo federal, o superintendente fez um paradoxo entre o alcance do metrô e o orçamento: enquanto em 2002, quando eram atendidos aproximadamente 200 mil passageiros, as verbas de custeio eram de R$ 72 milhões, hoje, com o dobro do número de passageiros, é de R$ 51,8 milhões. Foi justamente o aumento do aporte financeiro o motivo da reunião entre Villar e o atual ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), em Brasília, nessa terça (31).

Villar frisou ainda que a Linha Sul, ao contrário de 14 anos atrás, está em pleno funcionamento, além da linha de Veículos Leves sobre Trilhos (VLT) do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana. O número de trens quase dobrou nesse período, passando de 25 para 40. Tudo isso exige mais recursos para a manutenção. “A situação é muito difícil. A gente chegou no abismo”, lamenta.

PASTILHAS DE FREIO POR DOIS MESES

Das 40 composições atuais, 15 são novas e foram comprados para a Copa do Mundo de 2014. Mas seis já estão parados por falta de peças. Segundo o superintendente, só há pastilhas de freio, por exemplo, para mais dois meses. A solução provisória, então, é adotar estratégias para manter o funcionamento do sistema, como, por exemplo, remanejar equipamentos de um trem para outro.

Entre as questões já conhecidas pelos usuários, estão insegurança, lixo e ausência de equipamentos como elevadores e escadas rolantes nas estações. As linhas estão cheias de mato e entulhos e, na parte técnica, há ainda a degradação das subestações.

Para o superintendente, há ainda o problema da desmotivação dos funcionários diante da situação do metrô. “Chamaria de estágio de depressão mesmo. São funcionários que construíram o metrô, o têm como filho. O corpo técnico é muito preparado, muitos participaram da fundação”, explicou o engenheiro, que também é funcionário de carreira da CBTU.

» Movimentos sociais protestam contra Bruno Araújo no Recife

DÍVIDA DO GRANDE RECIFE

Villar ainda atribuiu parte da culpa ao Grande Recife Consórcio de Transporte, que não vinha repassando os recursos referentes às passagens dos terminais de integração, que são de aproximadamente R$ 2 milhões por mês. No ano passado, o presidente da CBTU, Marco Antônio Fireman, já havia denunciado uma dívida de R$ 48 milhões. “Isso recai no mesmo problema que o orçamento. Estão começando a repassar o atual, mas fazendo isso de forma parcial. Também estão em dificuldade financeira, mas isso penaliza a CBTU”, afirma Villar.

Nomeado na semana passada por Bruno Araújo, o superintendente Villar reconhece que há muitos obstáculos para o metrô, mas defende o modal. “Todas as grandes cidades no mundo têm metrô. É importante para a mobilidade de qualquer cidade. É um equipamento caro, que custou muito dinheiro nosso para ser implementado, e não podemos deixar acabar”, afirma. Se houver a paralisação do metrô, porém, a medida não deverá ser permanente.

Além de mais recursos, que o tucano vai pleitear com representantes do Ministério do Planejamento em reunião na próxima sexta-feira (3), o novo superintendente defende mudanças nas atividades no metrô. Está prevista uma reestruturação de processos internos de compras, operação e manutenção.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

“Manter operação é desafio", diz superintendente interino do metrô

25/05/2016 -  Folha de Pernambuco

Luiz Filipe Freire

Novo gestor enfrentará dificuldades orçamentárias para assegurar funcionamento de trens


Arthur de Souza/Folha de Pernambuco
Novo gestor prega enfrentamento da crise de forma realista

Servidor do metrô desde o período de sua implantação, na década de 80, o engenheiro mecânico Leonardo Villar Beltrão recebeu, na manhã desta quarta-feira (25), a missão de assumir interinamente a superintendência da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Recife.

Com a experiência de ter chefiado várias gerências da empresa, como a de Obras, até agosto de 2015, o novo gestor prega o enfrentamento da crise de forma realista. Destaca a necessidade de manter o básico - a operação dos trens -, mas, por conta do orçamento apertado, não firma prazos para outras demandas urgentes, como o reforço da segurança nas estações e nos trens. Beltrão, no entanto, enfatiza: a preocupação em passar o sistema a limpo nas próximas semanas indica que o Governo Federal vai passar a olhar o metrô de outra forma.

Como o senhor encara o desafio de assumir a direção do Metrô do Recife num momento em que o sistema enfrenta tantas dificuldades?

"Quando recebi a notícia do ministro [das Cidades, Bruno Araújo, PSDB], disse que era uma missão espinhosa, porque a situação do metrô é de muita degradação. É algo que já vem de anos. Mas me coloquei como funcionário público que sou, desde 1983 no sistema. Estou desde o início do projeto de implantação, na década de 80. Fui um dos primeiros de uma leva de engenheiros que começaram no metrô do Recife. Vi a implantação da Linha Sul, a compra dos novos trens [em 2013]. Passei por várias áreas da manutenção. Enfim, coloquei isso à disposição".

Como fica o sistema a partir de agora? Por onde começar?

"A mim foi pedido que fizesse um levantamento da empresa, um levantamento realista. Minha missão é fazer um planejamento até que se chegue à conclusão de qual vai ser o quadro definitivo da empresa. Não discutimos isso em detalhes ainda, mas vai se tratar de um planejamento de ações, do que pode ser feito, do que deve ser feito. Acho que continuar a operação do metrô é o grande desafio.

Já temos trens parados, inclusive, da frota nova, por falta de sobressalente [peças para reposição]. São peças difíceis, porque não são peças que se encontra na prateleira. Ou seja, são três trens novos que já estão parados e vários da frota antiga também, de uma frota de 40 trens. É algo que compromete muito a operação do sistema. Tem dia em que só conseguimos colocar 15 trens, 12 trens. É uma situação muito crítica. Como trabalhei muito tempo nessa área, vou atuar pessoalmente com o corpo técnico sobre essa situação".

Há algum prazo para a realização desse levantamento?

"Acredito que dentro de 15 dias ou, para um estudo mais detalhado, dentro de um mês".

Representantes do Sindicato dos Metroviários receberam bem sua indicação para ocupar o cargo de superintendente, mas se preocupam com o que vem depois, com a escolha do superintendente titular. Defendem um nome técnico, como ocorreu agora. Como o senhor enxerga isso? Há o risco de o que for desenvolvido agora, no seu período de interinidade, acabar não sendo levado adiante?

"Vejo a questão do seguinte modo: o novo governo está preocupado com o metrô do Recife. Acho que uma das primeiras estatais do Ministério [das Cidades] a ter mudanças nos quadros foi a CBTU, e na CBTU, a superintendência do Recife. As outras superintendências ainda não tiveram mudanças. Então, acho que isso aconteceu justamente por causa dessa questão grave que temos aqui, de degradação. Houve pressa nesse sentido. O ministro é pernambucano, sabe dos problemas do sistema daqui".

O senhor falou que o maior desafio é manter o básico: a operação do sistema. Isso significa rever a possibilidade de os trens deixarem de atender aos usuários nos fins de semana, como se cogitou?

"A questão de parar aos sábados e domingos é basicamente de orçamento. Se não vier orçamento, não temos dinheiro nem para pagar a energia. Mas é uma coisa mais fácil de ser resolvida à medida em que se tenha orçamento. É diferente da manutenção, que vai exigir um período de licitação. Pode acontecer até de a operação ocorrer com menos trens, mas é algo que se resolve com a questão dos recursos de que o sistema precisa".

Este ano, o orçamento da CBTU no Recife foi reduzido a R$ 51,9 milhões, metade do necessário. Como isso vai ser contornado?

"A gente ainda depende de uma sinalização do ministério de como isso vai ficar. Acho que essa aprovação do déficit de R$ 170 bilhões é algo que facilita muito a vida no quesito recursos".

Há previsão de aumentar a tarifa, hoje em R$ 1,60?

"Não, não há previsão. Isso pode até fazer parte do levantamento que vai ser preparado, só que mais no sentido de ver quanto o sistema custa, qual seria a tarifa ideal. Mas elevar é uma questão complicada, porque envolve uma decisão política. Tem a parte estadual, municipal, federal, mexe muito com a sociedade".

O metrô vive dias de violência. No último fim de semana, um suspeito de assalto foi morto dentro de um vagão. Nesse novo cenário, já se pode indicar alguma medida concreta para barrar a criminalidade no sistema?

"Há um plano de segurança, algumas estratégias, mas que dependem do orçamento. Há a questão do distrato com a empresa de segurança terceirizada..."

Por falta de pagamento?

"Por falta de pagamento. Ou seja, são aspectos dos quais ainda precisamos nos inteirar. Ainda não tem como dar uma ideia de prazo, de quantitativo, de algum reforço ou de qualquer ação nesse sentido".

Costuma-se dizer que o sistema ferroviário no País vem sofrendo descaso após descaso. Os 400 mil passageiros diários do metrô do Recife podem esperar um posicionamento diferente na atual gestão?

"Digo que se trata de um patrimônio, que não pode mais ser tratado como vem sendo tratado. Estimo que para ter um metrô do porte do nosso teria que se investir R$ 20 bilhões, R$ 30 bilhões. É um equipamento caro, de difícil implantação, e a gente já tem isso implantado aqui. Poucas capitais do País têm metrô. O nosso é o terceiro maior do Brasil. Dentro da CBTU, é o maior. Ou seja, é um patrimônio da sociedade e tem que ser cuidado. Para a mobilidade, é muito importante. Vejo nesse governo que está entrando essa percepção, essa preocupação. É um equipamento que vale qualquer esforço".

terça-feira, 17 de maio de 2016

Metroviários do Recife iniciam greve por tempo indeterminado

16/05/2016  - Diário de Pernambuco

Os metroviários iniciaram à zero hora de hoje, uma paralisação por tempo indeterminado. A greve foi deflagrada na última quinta-feira.Os serviços serão mantidos nos horários de pico (5h às 9h e 16h às 20h).Duas linhas não estão funcionando no ramal Diesel, nas linhas de Cajueiro Seco.

O Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (GRCTM) montou um esquema especial para atender a demanda de usuários do sistema metroviário, de cerca de 280 mil passageiros por dia. O plano de contingência reforçou 12 linhas e criou outras duas fazendo a ligação entre os seguintes Terminais Integrados: Joana Bezerra/Afogados; Afogados/Barro; Barro/Jaboatão e Cajueiro/Aeroporto. O serviço funciona com 41 veículos, das 9h às 16h e das 20h às 23h.

O presidente do Sindicato dos Metroviários de Pernambuco, Diogo Morais, fala sobre a paralisação às 10h, na sede do sindicato, no bairro de Areias. No mesm horário acontece uma reunião de negociação em Brasília. A greve foi deflagrada em assembleia geral da categoria realizada na quinta-feira passada. Os trabalhadores rejeitaram a proposta da Companhia Brasileira de Trêns Urbanos (CBTU) de 5,5% de reajuste. 

O movimento acontece de forma nacional, em seis estados. Os metroviários pedem aumento de 10,25%, que representa a reposição inflacionária, enquanto a CBTU ofereceu 5,5% com cortes de benefícios. Na terça-feira passada, o Sindmetro-PE aderiu ao Dia Nacional de Paralisações, de apoio à presidente Dilma Rousseff e contra o impeachment.

Após três rodadas de negociações, a companhia também teria cortado benefícios adquiridos em acordos anteriores como o vale Cultura. De acordo com o presidente do o Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (Sindmetro-PE), Diogo Morais, diante do estresse diário provocado pela insegurança e pelo sucateamento do Metrô do Recife por falta de investimentos, os metroviários não podem concordar com uma proposta que, além de retirar benefícios, não repõe nem a inflação acumulada do período.

Atualmente, cerca de dois mil funcionários atuam nas 29 estações do metrô nas linhas Centro e Sul. Na terça-feira, eles foram parcialmente substituídos em uma operação-padrão que convocou um efetivo de emergência. Apesar disso, os usuários enfrentaram problemas nas Linhas Sul e Centro esta manhã. Por falta de maquinistas, três das 14 composições (linhas Cajueiro Seco- Cabo de Santo Agostinho e Cajueiro Seco-Curado, em Jaboatão dos Guararapes) não foram operadas. Por conta disso, os intervalos subiram, de seis minutos para 10 minutos. Na Linha Centro, houve aumento no intervalo entre as composições de cinco minutos para, no  mínimo, sete minutos. O ramal da linha Diesel fo fechado.